domingo, 18 de setembro de 2011

A fuga do Parque dos Dinossauros





No começo os agradinhos na apresentação feita pelo Adelor Lessa e pelo Gilvan, na sequência a mesa e a platéia com Lise e Scarduelli à frente das ferinhas (fotos Satc)


Depois de virar jurássico no jornalismo esportivo não tive oportunidade de conversar com a meninada que busca uma vaga na profissão. Um pouco por indolência minha, muito por timidez e medo de enfrentar a sempre bem vinda curiosidade da garotada.

Ganhei esta primeira chance graças ao convite do companheiro Paulo Scarduelli, professor da disciplina de Jornalismo Esportivo na Satc – Sociedade dos Amigos dos Trabalhadores no Carvão -, universidade e curso novinhos em folha de Criciúma. Graças também à anuência da Lise Búrigo, a entusiasmada coordenadora do curso. Paulo e Lise, aliás, fazem um belo trabalho naquela instituição.

Decidi fugir do Parque dos Dinossauros para enfrentar uma platéia atenta e certamente bastante crítica. Consegui falar sobre a profissão e sobre Jogos Abertos – razão da minha passagem por lá –, com a mediação generosa dos amigos baby sauros Adelor Lessa e Gilvan de França. Também falei sobre alguns percalços a que o jornalista está sujeito em um evento como os Jogos Abertos, pela sua complexidade e diversidade de participantes, e que rendem boas histórias.

Foi um papo interessante e produtivo, com uma boa troca de experiências, pelo menos para este humilde escriba. Em novembro, durante os Jogos em Criciúma, terei a oportunidade de acompanhar o trabalho dos alunos da Lise e do Scarduelli na alimentação do portal da Satc, cujo texto abaixo registrou o bate papo da sexta-feira à noite.


Com anos de experiência na cobertura dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) o jornalista Mário Medaglia foi o palestrante na noite desta sexta-feira, 16, na Faculdade Satc.


O profissional, que já atuou na cobertura de mais de 30 edições dos jogos, conversou com acadêmicos de Jornalismo da 3ª, 6ª e 8ª fases. A vinda ocorreu a convite do professor Paulo Scarduelli, na disciplina de Jornalismo Esportivo.
O debate foi mediado pelos jornalistas Adelor Lessa e Gilvan de França, que também já atuaram na cobertura dos Jogos em Santa Catarina.


Medaglia ressaltou que os Jasc são considerados o maior evento esportivo desse nível no país. "Além de tudo, contempla todas as modalidade olímpicas".
Para ele, seria interessante que os municípios aproveitassem mais os espaços que são melhorados ou criados para as competições. "Em muitas cidades percebemos que os espaços esportivos acabaram ficando de lado e não sendo aproveitados pela comunidade depois, o que é um erro", destacou.


Mário Medaglia, hoje integrando o Conselho Estadual de Desportos, estará presente em Criciúma, de 10 a 20 de novembro, acompanhando a 51ª edição dos Jasc. Práticas de jornalismo e a visão de Medaglia podem ser conferidas em seu blog.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Vale a pena ler de novo

Do Portal Imprensa, um pouco, apenas um pouco, do que rola nos bastidores da imprensa esportiva brasileira. São assuntos recorrentes, mas quase nunca abordados pelos jornalistas da área.


No final de 2006, o motoboy Paulo César de Andrade Prado decidiu criar um blog. O que era inicialmente um simples espaço de autoexpressão se tornaria, em poucos meses, uma inesgotável fonte de denúncias do mundo esportivo: o "Blog do Paulinho". Uma delas dava conta de que a diretoria do Corinthians armava um golpe milionário contra o Lyon, clube francês, então detentor dos direitos do ex-corintiano Nilmar. A notícia teria enorme repercussão no País.

Era só o começo de uma extensa lista de acusações, envolvendo figuras graúdas do futebol brasileiro, desde Roberto Dinamite - "eu comprovei, com documentos e tudo, que ele desviava dinheiro do Vasco para as Ilhas Cayman" - até a mais recente, que liga o técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, ao empresário francoargelino Franck Henouda, em um suposto acordo para convocar atletas brasileiros do clube ucraniano Shaktar Donetsk.

Além de mais um processo no currículo, o episódio acabou trazendo problemas para seu blog. "Ele [Henouda] entrou na Justiça contra mim e a juíza decidiu que meu blog não deveria ser acessado por ninguém. Para fugir disso, eu botei o blog em um servidor da França, mas aí ela deu a ordem para que os provedores do Brasil impedissem o acesso do meu blog no exterior. O único que faz isso é a NET. Quem usa o Speedy, acessa normalmente", diz. Em entrevista exclusiva à IMPRENSA, Paulinho fala como deixou a vida de motoboy, critica a corrupção na imprensa brasileira - que chama de "alarmante" - e questiona as ligações entre o Corinthians e a TV Bandeirantes.

A ideia inicial do blog já era investigar o jornalismo esportivo?

Não. No início, eu não tinha ideia nenhuma. Mas, como eu gosto muito de esportes, comentava os assuntos do dia, até que comecei a achar aquilo muito chato e passei a checar se as informações que eram publicadas na imprensa eram verdadeiras. Eu ligava para os lugares: 'Alô, aqui é o Paulinho, eu tenho um blog, gostaria de saber se tal informação é verdadeira'. Como eu tenho uma opinião forte, o blog começou a ficar conhecido no 'boca-a-boca'. Um fato que me ajudou muito é que eu sou sócio do Corinthians, tinha facilidade de entrar no clube, e já me chamava muita atenção que o Andrés Sanches [atual presidente do Corinthians] era endeusado pela mídia. Então, eu comecei a contar tudo o que eu sabia. Nisso, meu blog começou a ficar muito lido por jornalistas e por gente de dentro do clube. Além disso, eu fui conhecer o Juca [Kfouri] na Rádio CBN, e ele às vezes me citava na rádio: 'eu li, no Blog do Paulinho, que aconteceu isso, diferente do noticiado pela mídia'. Comecei a ter uma baita projeção, até que veio o caso Nilmar, que foi o grande 'boom' do blog.

Como você chegou a essa denúncia?

O Andrés Sanches e alguns diretores do Corinthians viajaram para Londres, para ter uma reunião com o Kia [Joorabichian, sócio da MSI, empresa parceira do clube à época]. Sem ninguém saber, uma dessas pessoas gravou a reunião. Eu recebi a gravação na íntegra e descobri que eles estavam armando um golpe no Lyon. Chequei alguns nomes, informações e contei a história. No dia seguinte da publicação da matéria, o Roque Citadini disse no blog dele que tudo o que eu falei era verdade. Aí o Juca Kfouri pegou o meu texto e o do Citadini e botou no blog dele. O Kia armou um esquema no Lyon: ele pegou o Nilmar emprestado, pagou dois milhões de euros pelo empréstimo... Mas, quando deu os dois milhões, o Kia conseguiu que um funcionário do Lyon, com anuência de um cara da Fifa, liberasse o vínculo do Nilmar como se tivesse sido de compra. Os dois foram subornados. Não só o Kia sabia de tudo, como o Andrés Sanches também. Sabiam e ficaram calados. O [Alberto] Dualib [presidente do Corinthians à época] estava brigado com o Kia e com essa gente que foi lá. E, como não sabia do caso, ele entrou com uma defesa na Fifa, diferente da defesa da MSI. As defesas conflitaram, e o conflito gerou suspeitas na Fifa, que viu que era um golpe.

Quantos processos você já levou por conta das denúncias do blog?

Depois de 50 processos, eu perdi a conta. Eu imagino que sejam uns 60. Desses 60, 30 são do Kia. Eu sou a única pessoa do mundo processada pelo Kia. Eu cheguei a ser processado pelo Ricardo Teixeira, ganhei dois processos dele, agora eu estou sendo processado pela CBF, porque eu escancarei um esquema de corrupção no departamento de registros da entidade. O diretor de registros da CBF, o Luiz Gustavo [Viera de Castro], costuma facilitar registros de alguns jogadores... Fazer uns registros meio frios. Além disso, ele tem uma agência de viagem e os empresários que querem ter moleza na CBF são obrigados a comprar passagem dele.

Você já perdeu algum processo?


Eu perdi um, pro Kia. Ganhei 20 dele, mas perdi um, porque eu o chamei de mafioso. Aí, o juiz considerou que mesmo ele sendo mafioso, eu estava injuriando ele (risos).

Você largou o trabalho de motoboy?

Conforme o blog foi repercutindo, eu não conseguia mais conciliar. Alguns amigos me ajudaram, pagando minha faculdade de jornalismo e também com os custos do blog. Hoje, eu sou diplomado, terminei o curso na metade do ano. Aos poucos, eu fui capitalizando isso: comecei a dar palestras, a colocar banners no meu blog, o que me rendia algum dinheiro. Hoje, eu vivo do blog e abri uma rádio na internet, a 'Mídia Cast', onde trago programas esportivos diários.

Recentemente, derrubaram seu blog. Como foi isso?

Existe um empresário, que trabalha no Shaktar Donetsk, chama-se Franck Henouda. Ele tem parceria comercial com o Kia e o Carlos Leite, empresário do Mano Menezes. Ele tem um acordo com o Mano, pra que o Mano convoque jogadores do Shaktar. O Henouda está desesperado... Eu estou desmacarando todos os podres dele. Nisso, ele entrou na Justiça contra mim. A juíza que cuida do caso, preliminarmente, decidiu que meu blog não seria acessado por ninguém. Segundo ela, isso serve pra impedir que, se caso o blog estivesse maculando a imagem do Henouda, isso não acontecesse mais. Para fugir disso, eu botei num servidor da França . A juíza deu a ordem para que os provedores do Brasil impedissem o acesso do meu blog no exterior. Por enquanto, o único que faz isso é a NET. Quem acessa pelo Speedy, acessa normalmente. Eu não retiro o direito do Henouda em me processar. O que não pode ter é censura no país.

Você pretende parar com as denúncias?

De jeito nenhum! Meu blog tem 30 mil acessos por dia. Jamais imaginei isso na minha vida. Para mim, eu ia morrer motoboy. Eu tinha segundo grau, estava naquela vidinha há três ou quatro anos. O que aconteceu na minha vida é algo abortivo, dificilmente aconteceria de forma natural. O Juca Kfouri diz que eu tinha jeito pra coisa e não sabia.

Qual é a sua visão do jornalismo esportivo praticado no Brasil?


No geral, a mídia esportiva brasileira me decepciona muito. A grande maioria faz o arroz com feijão, eles viram quase assessores de imprensa informais dos clubes que estão cobrindo. Eles vão ao clube, tomam cafezinho, assistem ao treino, aí vem o assessor de imprensa e passa uma ou outra informação - quem está machucado, quem vai jogar - e eles divulgam. Eles não publicam as coisas erradas que acontecem. São poucos que têm coragem, e o que não falta é coisa errada pra publicar. Fora outros casos de jornalistas que pegam dinheiro para proteger dirigente, para não divulgar informação. A corrupção na imprensa é tão alarmante quanto a corrupção entre os dirigentes de futebol.

Você pode dar um exemplo objetivo?

Por exemplo, o jornalismo da Band é formado por gente absolutamente comprometida com a direção do Corinthians. O Neto teve despesas e dívidas antigas pagas pelo Andrés Sanches, que financiou o casamento dele e abriu uma sorveteria para ele, só que colocou no nome de outra pessoa. O Osmar de Oliveira falou pra mim em uma festa que o Andrés era uma pessoa desonesta. Hoje, ele beija os pés dele; por causa disso, o centro de recuperação do Corinthians virou o Ceproo - Centro de Preparação e Reabilitação 'Osmar de Oliveira'. O João Saad [fundador do Grupo Bandeirantes] é o nome da sala de imprensa do Corinthians. Outro exemplo é o Neto; é uma pessoa muito nociva para a imprensa. Foi ele quem colocou o Mauro "Van Basten" no Corinthians. O Mauro é quem indica jogador, veta etc. Eu estou comprovando na Polícia Federal - tenho gravação e tudo mais - que o Mauro leva dinheiro do Corinthians. A PF vai ter que comprovar para onde ele manda o dinheiro, que muito provavelmente é para a conta do senhor Neto e do senhor Andrés Sanches. Quando o Neto brigava com o Andrés, ele me ligava pra denunciar o Andrés pra mim, falava que o que eu dizia era verdade, que ele não valia nada. Quando ele se acertava com Andrés, ele ficava bonzinho.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ministro foi com muita sede ao pote

O Ministro do Esporte, Orlando Silva, queria presidir a Autoridade Pública Olímpica. Ele nunca escondeu sua vontade de passar esse período até 2016 como um dos figurões mais poderosos do Brasil na Olimpíada. O Senado derrubou sua pretensão e aprovou para a presidência da entidade o nome de Márcio Fortes, ex-ministro das Cidades. O golpe final aconteceu com o decreto 7.560/2011, publicado no Diário Oficial da sexta-feira, tirando a APO do Esporte, passando-a para o Ministério do Planejamento. Decisões que certamente tiveram o dedo, se não a mão inteira, da presidenta Dilma, há muito descontente com as manobras de um ministro que nunca teve a sua benção.

Para quem ainda não sabe, a Autoridade Pública Olímpica é responsável pela coordenação dos empreendimentos voltados à organização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. O trabalho será executado em parceria com os governos municipal e estadual, o que por si só já representava um grande perigo e ameaça real de uma bela tungada nos cofres públicos. Os Jogos Panamericanos de 2007 no Rio de Janeiro nos ensinaram muitas lições, algumas ainda não assimiladas pela turma que mexe com o dinheiro.

E para se ter uma idéia da sede deste ministro do PC do B, Orlando Silva queria 484 cargos na APO, número reduzido pelo Congresso para apenas 181 e que Márcio diz se contentar com apenas 60. Com aquela montoeira de cargos para preencher e gerenciando toda a parte administrativa e financeira, dá para entender as razões para tanta vontade de beber nessa fonte.

sábado, 10 de setembro de 2011

Estádios e enchentes

O estádio de Brasília que está sendo construído para a Copa de 2014 vai consumir R$ 1 bilhão de reais e terá capacidade para 70 mil pessoas. Pra quê isso na Capital Federal, onde o futebol não é consumido na proporção em que acontece nos outros estados? Só se os clubes cariocas, paulistas, mineiros, paranaenses e gaúchos, especialmente esses, transferissem seus jogos para lá. Aí sim haveria envolvimento do torcedor, mas não com os Brasilienses e Taguatingas da vida. E também não justificaria um investimento desse porte.

A resposta para este questionamento é fácil. Quem é que dá bola para as carências de escolas, hospitais, universidades, segurança, transporte público, saneamento básico e outras necessidades da população de Brasília ou qualquer outro canto da nação? Ninguém, pois a prioridade hoje é a construção desse monstrengo que logo vai virar um majestoso elefante branco. É esperar e acompanhar o trajeto do nosso dinheiro no país inteiro. Depois, como acontece agora nas enchentes em Santa Catarina, aparecem autoridades de todos os matizes com aquelas caras compungidas fingindo solidariedade e dor com a tragédia alheia. Bandidos e cretinos, isso é que são, independente de cor partidária. .

domingo, 4 de setembro de 2011

Apropriação indébita


No país da bola nem o futebol anda tão redondinho assim. Só o voleibol e o futsal, os primos ricos das nossas modalidades esportivas preferidas, é que conseguem superar crises e não precisam passar o chapéu. Tem quem garanta associações organizadas, atletas bem pagos e ginásios cheios. Desde, é claro, que exista por trás, ainda que efêmero na maioria das vezes, projeto de alguma empresa forte que lhe dê sustentação.

As demais práticas esportivas e seus atletas morrem à míngua ou fazem milagres para sobreviver. É assim com o remo, ex-xodó de Florianópolis e de uma torcida fiel que durante anos freqüentou as raias das nossas belas baías. Havia um acompanhamento com sincero interesse das competições que envolviam Aldo Luz, Riachuelo, e Martinelli, pela Capital, e alguns clubes do interior, a grande maioria já extinta.

Os projetos sobreviventes, nascedouros de remadores logo absorvidos pelo Rio de Janeiro, o grande centro do remo brasileiro, produzem campeões como Fabiana Beltrame. Esta semana ela ganhou na Eslovênia um ouro inédito para o Brasil com o título no Mundial categoria single skiff leve.

Ela saiu cedo de Florianópolis para aprimorar sua técnica no remo carioca e ganhar condições para disputar competições internacionais como esta que acaba de vencer derrotando a suíça e favorita, Pamela Weisshaupt. Se ficasse no seu estado batendo nas portas de empresas ou das esferas governamentais, adeus esporte, fim do sonho de confrontos internacionais e títulos de grande repercussão.

O apoio do programa Petrobras Esporte & Cidadania veio lá fora. Aqui, nada de reconhecimento e Fabiana acabou repetindo o roteiro dos grandes atletas criados em Santa Catarina. Por tudo isso é com espanto e um pouco de irritação que agora ouço, leio e vejo a campeã mundial Fabiana tratada insistentemente pela mídia e por autoridades esportivas como “a nossa manezinha”. Medalhas e condecorações já devem estar sendo confeccionadas pelos ocupantes do Palácio do Governo e das Secretarias que só têm recursos para projetos megalômanos e/ou suspeitos.