quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Panfletinho básico



Acordei de mau humor. Primeiro pelas dificuldades impostas a mim nos últimos meses por todos os segmentos públicos e privados responsáveis pela saúde do cidadão. E ultimamente, com a proximidade de uma eleição complexa. É desanimador o que tenho acompanhado da política e dos políticos. Não vale a pena votar, eleger gente que mais adiante não te dá nenhum retorno no mínimo que se exige de um ocupante de cargo público, eleito pelo povo em uma nação dita democrática.

O último debate (?) promovido pela RBS na terça-feira à noite foi patético. A começar pela cobertura dos profissionais da própria rede. A não ser pelas cobras criadas do jornalismo político, no mais tive que ouvir uns pirralhos sem nenhum conhecimento não só do assunto, mas principalmente das peculiaridades locais. As perguntas no final tinham a profundidade e o alcance do tipo – “o que achou do debate”? -.

Indigência mental nesse caso é pouco. A proposta de um debate que não é debate já inviabiliza qualquer tentativa para despertar o interesse do ouvinte/telespectador/eleitor. É uma tragicomédia, encenada com competência, e de acordo com a conveniência por candidatos despreparados e desprovidos de qualquer princípio ético. Prova disso são o amontoado de promessas já não cumpridas em governos anteriores pelos candidatos de sempre. Domingo vou teclar números sem convicção, sem nenhuma esperança. Vou às urnas apenas porque tenho a obrigação legal.

O comprometimento moral, de cidadão consciente, ora, isso já empurrei pra baixo do tapete faz tempo. Aliás, pratica fartamente adotada na política brasileira, com o suporte de um sistema judiciário comprometido com o que há de pior neste país onde a ordem e o progresso não representam nada mais do que palavras aplicadas em uma bandeira desrespeitada nos 365 dias do ano.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O cirquinho da CBF



O calendário Fifa com datas para jogos oficiais e amistosos de seleções é divulgado com a antecedência necessária para que as confederações possam adequar seus planejamentos. Parece que a CBF vive completamente divorciada do assunto, como se percebe a cada convocação da seleção brasileira.

Recentemente passamos pelo ineditismo de reunirmos, só para treinos, os escolhidos por Mano Menezes. A turma ficou durante uma semana na Espanha só batendo bola e enfrentando um sub qualquer coisa do Barcelona.

Agora a CBF repete a dose chamando jogadores, inclusive dos times envolvidos na fase decisiva do Brasileirão, sem que estivessem definidos os adversários para duas datas Fifa. Ficamos sabendo, logo depois desta nova convocação, que enfrentaremos duas poderosas seleções, a do Irã 57ª do ranking, e a da Ucrânia, 27ª.

O primeiro jogo, contra os iranianos, será dia 7, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos que, por sinal, tem sua seleção em 90º lugar no ranking da Fifa. Quatro dias depois o circo estará montado em Derby, uma pequena cidade do interior da Inglaterra, reduto de imigrantes ucranianos. A seleção brasileira jogará no pequeno Park Stadium, com capacidade para pouco mais de 33 mil torcedores.

Mesmo com as melhores seleções européias disputando as eliminatórias para a Euro 2012, com um mínimo de planejamento a CBF daria ao Mano Menezes coisa melhor para testar a nova seleção. Sem contar que os jogadores seriam poupados de viagens para os quintos dos infernos e os clubes, três rodadas desfalcados em partidas decisivas, teriam de volta seus craques menos desgastados.

Mas para que servem os clubes brasileiros a não ser para pagar taxas escorchantes à CBF, sustentar espetáculos mambembes e ajudar Ricardo Teixeira a arrecadar milhões de dólares em amistosos caça níqueis?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E agora, Luxa?


Luxemburgo, cara feia para o gosto amargo do fracasso

O endeusamento de profissionais que militam no futebol é o grande pecado da mídia esportiva brasileira. Qualquer destaque logo vira craque, fenômeno, grande técnico, o melhor preparador físico, um dirigente excepcional, e por aí vai. Não faltam adjetivos.

Vanderlei Luxenburgo é a mais nova vítima do excesso de expectativa e de elogios desmesurados ao seu trabalho. Vanderlei realmente é dono de um currículo invejável como técnico dos principais clubes do país, títulos estaduais e nacionais, e também com fracassos retumbantes memoráveis na seleção brasileira e no Real Madri.

“O melhor treinador do Brasil” acaba de ser demitido no Atlético Mineiro, depois de 15 derrotas no Brasileirão e de manter o time na zona de rebaixamento durante 15 rodadas. Será difícil reverter a situação, no mínimo curiosa, para um grupo que tem o goleiro Fábio Costa, o zagueiro Rever (recém convocado por Mano Menezes), o meia Ricardinho e os atacantes Diego Souza e Diego Tardelli, entre outros menos votados, mas todos bons jogadores.

Talvez seja melhor o “Luxa”, como alguns jornalistas bobamente o tratam, dar uma parada, tirar umas férias. Ultimamente por onde passou tem acumulado resultados negativos, sempre provocando a pergunta inevitável. O que está acontecendo com o elegante, bom de prosa e empresário bem sucedido, Vanderlei Luxamburgo? Ultrapassando os limites do pedantismo, misturando profissões inconciliáveis, parece que o “Luxa”, o treinador mais caro do Brasil junto com Muricy Ramalho e do Felipão, está virando lenda.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mano também pisou na bola



Dizer que os treinadores de futebol são corporativistas é chover no molhado. Quem não o é? Que categoria escapa da autodefesa? Médicos, engenheiros, jornalistas, todos aplicam a autoproteção corporativa.

Mano Menezes agiu assim ao deixar Neymar fora da convocação divulgada nesta quinta-feira. Indiretamente manifestou claramente seu apoio a Dorival Júnior, demitido do Santos por causa do bololô com o menino mimado do Santos.

O treinador da seleção brasileira ao apoiar Dorival e punir o jogador está abrindo mão da qualidade em troca de uma duvidosa ação disciplinadora. O técnico do Santos já havia cometido esse erro, conduzindo mal o litígio e a insubordinação do atacante. A reação dos dirigentes foi ainda pior e culminou com a sua demissão.

Faltou em todas essas instâncias no mínimo a conversa cara a cara, aquela que poderia encaminhar uma solução melhor para o conflito. Ao deixar Neymar fora da sua lista de convocados, Mano Menezes sacramentou a falta de tato para chegar à solução de um assunto rotineiro no futebol e que equivocadamente o clube e o time acabam sendo punidos, ao invés do infrator. Neymar, por seu talento hoje raridade entre nós, merecia outro desfecho para esse episódio, com Dorival Júnior, Mano Menezes e os dirigentes da sua agremiação. Todo mundo pisou na bola.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Rebuliço na Vila





Depois de uma overdose de esporte na cobertura dos Jogos Abertos e de alguns percalços pessoais que me tiraram a vontade de escrever, tentarei manter em dia a escrita. Começando pela grande polêmica da semana no futebol: quem errou mais, Neymar, Dorival Júnior ou o Santos?

Todo mundo pisou na bola nesse episódio constrangedor para todas as partes envolvidas. O jogador já deu provas suficientes da sua falta de educação. Essa história de garoto rebelde, coisa da idade, tem limites. Neymar acumulou atos de indisciplina e de incivilidade que não foram reprimidos nem em casa, tantas foram as manifestações de apoio do pai, tornadas públicas através da imprensa.

Por seu lado o treinador extrapolou na punição, prejudicando apenas o time, sem reflexos sobre a conduta do jogador. Deixá-lo fora até do banco e num clássico contra o Corinthians, provocou a intervenção dos dirigentes, diante dos prejuízos evidentes à equipe. Aqui outro erro,a demissão do Dorival. A não ser que ele tenha colocado na condição de irrevogável sua decisão de afastar o jogador até de um jogo tão importante. O clube está acima do conflito entre Neymar e o técnico, como ficou claro na decisão dos dirigentes.

Enfim, todo mundo errou feio na Vila Belmiro. Dorival, preocupado em preservar sua autoridade, exagerou na dose, provocando reação na mesma medida de outra autoridade, a presidência do Santos. Neymar nessa hora precisa vir a público com um pedido de desculpas sincero, jogando seu bom futebol e dando bons exemplos à meninada bem mais jovem que ele e que o toma como referência de craque. O Santos perdeu um bom treinador e vai ter dificuldade para arrumar outro em seguida, pela escassez da hora. Dorival já virou grife e pode arrumar logo novo emprego (São Paulo?). Neymar é que levará mais tempo para desfazer o estrago, melhorar sua imagem e apagar a fama de rebelde sem causa.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Seleção pé de página

Só treino dá sono (uol esporte)


A chamada grande mídia esportiva parece que perdeu o senso crítico em relação à seleção brasileira e à CBF. Depois de tanta pancada no Dunga e nos seus rapazes do bem tudo indica que a turma resolveu dar um tempo a Mano Menezes & Cia. Até surgir a primeira oportunidade para recomeçar o jogo duro com o time que está sendo preparado para a Copa de 2014.

Caso contrário, como explicar o silêncio com a temporada européia criada por Mano exclusiva para treinamento? A desculpa é a falta de adversários. A rodada pelas eliminatórias da Eurocopa foi semana passada. E as datas Fifa estão aí para serem aproveitadas contra muitas das seleções européias que passaram ou não por aquele compromisso. Tanto é verdade que Argentina e a campeã do mundo Espanha aproveitaram para jogar um amistoso nesta terça-feira.

Só o Brasil não conseguiu um sparring decente. Enfrentou em jogo treino o Barcelona B. Tinha esperança que Mano mudasse pelo menos um pouco a maneira de trabalhar com a seleção. Por enquanto nada feito. Nunca vi, na história do nosso futebol, um grupo de jogadores reunido na Europa com todo o entourage da Comissão Técnica apenas para treinos.

A desculpa esfarrapada da falta de adversário na verdade encobre o desinteresse de qualquer confederação internacional disposta a gastar, e muito, com a apresentação de uma equipe recém formada e em processo de laboratório. Hoje nós é que precisamos pagar, a não ser que joguemos contra um time cacareco. Como a CBF só visa o lucro, independente do resultado técnico, pagamos é um grande mico com essa mini-temporada de luxo na Europa.

Está na cara. Pena que a grande mídia, concentrada nos principais estados brasileiros, tenha ignorado as evidências. A não ser pelo fato de ter destinado o menor espaço possível em jornais, rádios e tevês. Quando que uma seleção brasileira mereceria não mais do que um pé de página? Eu vi – e me neguei a ler -, ninguém me contou. Começa do pior jeito possível a era Mano Menezes.

domingo, 5 de setembro de 2010

O judiciário explica o país

Incomodado com o que leio, vejo e ouço todos os dias ainda dei de cara com o texto abaixo no blog do Canga. Não resisti e tomei emprestado para republicá-lo aqui. Conhecendo o judiciário que temos vamos entender o país onde vivemos.

Por Edison da Silva Jardim Filho

Li, semana passada, notícia publicada em coluna política de um jornal de Florianópolis, informando que o ministro-catarinense-do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Jorge Mussi, iria receber o título de cidadão honorário do município do Rio de Janeiro. Na mesma solenidade, outros dois ministros do STJ também seriam homenageados pela Câmara dos Vereadores daquela cidade.


O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ/SC) agracia, em datas festivas, personalidades com a medalha da Ordem do Mérito Judiciário nos graus de Grande Mérito, Mérito Especial, Mérito e Insígnia. Certamente, todos os demais tribunais do país também criaram e mantém as suas comendas em graus diferentes. Em 2.004, o TJ/SC comemorou 113 anos de sua instalação no Estado. Era o seu presidente o ministro Jorge Mussi. Na sessão solene alusiva à data, receberam honrarias o então senador da República, Jorge Bornhausen, e o ex-governador do Estado, Casildo Maldaner. Também foram homenageados empresários e outros profissionais. Não me parece despiciendo que, no Brasil, os tribunais devessem contar até o infinito antes de homenagearem os políticos e um certo tipo de empresário, histórica e umbilicalmente ligado ao poder público.


A prática de dar e receber títulos honoríficos, medalhas e condecorações, pelos ministros e desembargadores de tribunais país afora, para mim, e eu creio não estar sozinho neste pensar, atenta contra a “independência” do poder judiciário (artigo 2° da Constituição Federal: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”). Afinal, o poder judiciário não são os seus juízes?... Essa seria uma das muitas questões que, fosse a Ordem dos Advogados do Brasil também independente, deveriam estar merecendo a sua reflexão há muito tempo: se é ou não lógica e razoável a coexistência dos princípios da “harmonia” e da “independência” na cláusula constitucional: “independentes e harmônicos entre si”, em relação ao poder judiciário? A palavra: “harmonia” não é a melhor para representar o “sistema de freios e contrapesos” que perpassa e submete os três poderes, pois também serve para admitir e justificar essa e outras práticas do poder judiciário que, aparentemente, pelo menos a um juízo moral mais rígido, não seriam muito republicanas.


Outra prática que considero, igualmente, insustentável em face do princípio da “independência” do poder judiciário, embora agasalhada pelo artigo 67 da Constituição do Estado de Santa Catarina, é a de o desembargador presidente do TJ/SC substituir o governador, nas ausências conjuntas-propositais, diga-se de passagem-dos seus dois sucessores legais imediatos: o vice-governador e o presidente da Assembléia Legislativa. O presidente do TJ/SC é o terceiro na linha de sucessão do governador. A justificativa é sempre a homenagem, repentina e merecida, que, incontidamente, o governador, o seu vice e o presidente da Assembléia Legislativa desejam prestar ao presidente do TJ/SC. Mas seria, mesmo, homenagem, ou verdadeiro “presente de grego”?... Essa prática, vista sob a ótica dos interesses mesquinhos que vêm norteando, já há um bom tempo, o poder político no Brasil, deve ter por escopo o comprometimento da credibilidade do poder judiciário.


Não encontrei fecho melhor para este artigo do que a antiga lição, infelizmente de aplicação atual, de um dos brasileiros com maior autoridade intelectual e moral em todos os tempos: o jurista Roberto Lyra, contida no seu livro: “Como julgar, como defender, como acusar”: “Togas limpas não aceitam, sequer, formas sutis e, por isso, mais perigosas de corrupção. Como o poder moderador na democracia, a Justiça deve repelir as ‘cortesias’ das ‘relações públicas’, as ‘homenagens’ de títulos e medalhas. A moeda não será em espécie, mas açula o soldado da luta direta e inerme contra as ilegalidades e injustiças.”

sábado, 4 de setembro de 2010

PQP, FUCK YOU



Jogo de pouco público com arquibancadas praticamente vazias. Palco ideal para se ouvir tudo o que se fala e se grita dentro de campo e às margens do gramado, onde ficam comissões técnicas, reservas e auxiliares da arbitragem, incluindo o quarto árbitro. Não vamos esquecer, é claro, da torcida, que tem um vocabulário extenso e diversificado de xingamentos.

O linguajar utilizado por todos esses personagens é chulo. O áudio das tevês reproduz tudo com clareza e fidelidade. O palavrão hoje faz parte de um dialeto próprio do esporte. Pode doer mais que uma agressão física. Tem para todos os gostos e conhecimentos. Jogadores do mesmo time, a começar pelo goleiro, não conhecem outra linguagem a não ser a do palavrão. Quando o objetivo é insultar o adversário a criatividade abunda. E vale também para o companheiro de time.

O árbitro não escapa mais nem dos jogadores e dos técnicos, ainda que às vezes a resposta venha na forma de um cartão colorido, defesa dos indefesos ou pusilânimes. Falta educação esportiva pela ausência de orientação desde as chamadas categorias de base. Os treinadores repreendem seus atletas com o pior dos repertórios, quando não, chegam quase à agressão.

Vejo muito disso também em outros esportes. É só ficar à beira de uma quadra. Mesmo com ginásio cheio dá pra entender a comunicação utilizada durante os jogos, seja qual for a modalidade ou, pior, a faixa etária dos atletas e demais envolvidos no confronto. Já vi muito menino levar cascudo e muita menina ouvir o que talvez não ouça em casa dos pais. Acontece já em eventos escolares. Comportamento de professores de educação física transformados em técnicos, originalmente educadores. São homens e mulheres mostrando o pior dos caminhos a jovens que estão começando no esporte.

Mais tarde, transformados em atletas de rendimento, quando o bicho pega em razão de patrocínios, altos salários e obrigação de respostas positivas rumo ao pódio, não tem mais conserto. Nos gramados ou nas quadras, impera a falta de respeito ao adversário, companheiros e controladores da competição.

Tribunais lenientes e regulamentos omissos contribuem significativamente para esse desvio de comportamento. Não tem mais jeito. Quem xinga e bate mais, chora menos, fica mais próximo da vitória. Assim como os políticos, esse bando de deseducadores e alimentadores do círculo vicioso do roubo e do poder. Não estou generalizando. Quem tiver touca que faça bom uso.