quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Jornalismo festivo

Tem uma coisa que me incomoda muito no jornalismo esportivo de hoje que é essa cobertura festiva, recheada de oba-oba, independente da modalidade. Claro que o futebol é a maior vitrine para essa relação promíscua que se estabeleceu entre jornalistas e fontes, intimidade incomum, inadequada e bem visível quando se trata de material veiculado principalmente por televisão e rádio. Os programas de debates, às centenas por esse país futebolístico, expõem outra face, a que pertence ao segmento da mídia impressa.

São poucos os repórteres, comentaristas ou narradores que resistem à tentação de uma boa puxada de saco, em prejuízo da informação, das perguntas pertinentes, reproduzindo inverdades ou situações mais próximas da ficção.

Há grandes especialistas nesta fórmula que toma conta do jornalismo esportivo brasileiro. Nem é preciso citá-los individualmente, são bastante conhecidos do ouvinte-telespectador-leitor. É uma praga que se espalhou pelas redações do país inteiro. Alguns jornais, raros programas de televisão, número menor ainda em se tratando de rádio, escapam dessa mania nacional.

O passionalismo do torcedor impede maiores reflexões sobre o assunto. Elogios ao seu time e seus ídolos acomodam arquibancadas, dirigentes e profissionais envolvidos com o meio futebol ou modalidades que margeiam o dia a dia do noticiário esportivo. A crítica, mesmo que isenta e bem intencionada, provoca efeito contrário. Tem gente que já apanhou ou foi ameaçado de morte por emitir opiniões livres de paixões, deixando a festa e o foguetório para os torcedores de carteirinha. São chamados de ranzinzas, “do contra” e acusados de torcerem pelo adversário.

Tostão escreveu esta semana na sua coluna da Folha de São Paulo abordagem parecida com a que faço aqui, mas com a mesma conclusão: “O jornalista tem de estar perto da fonte e das notícias e, ao mesmo tempo, ter um distanciamento crítico”. Nosso distanciamento na realidade é outro, bem longe do que deveria ser uma regra e se transformou em honrosas exceções.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Na técnica ou no pedal?

Há duas semanas Dunga e a seleção estavam à margem do noticiário, apesar de vivermos um ano de Copa do Mundo. A não ser por citações esporádicas, o assunto permanecia no fundo das gavetas de editores da grande mídia do país.

Bastaram algumas firulas e alguns gols bonitos, outros nem tanto, para Ronaldinho Gaúcho voltar ao noticiário com volume e freqüência impressionantes. Dunga deve andar com as orelhas quentes pela insistência com a tal nova fase do dentuço e a possibilidade da sua convocação. Realmente ele vem mostrando futebol próximo do que jogou principalmente no Barcelona. Nessa hora ninguém resiste a uma boa especulação, principalmente em paralelo à péssima fase do Robinho no Manchester City.

Ronaldinho em forma e mostrando os dentes pela alegria de jogar futebol é titular da seleção para com sua técnica ajudar Kaká, hoje uma andorinha no time brasileiro. Se depender de coerência Dunga pode chamar Ronaldinho de volta, jogador a quem ele já deu atenção nos seus piores momentos. Já tem gente torcendo para a imprensa calar o bico antes que aflore o Dunga birrento e o Brasil vá para a África do Sul pedalando.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Futebol, originalidade, despotismo e equilíbrio

Nosso campeonato está começando cheio de novidades e nenhum favorito, contrariando palpiteiros de plantão como blogueiros, jornalistas de carteira assinada, ex-jogadores, ex-treinadores, ex-árbitros, os conhecidos práticos e furadores de fila no mercado de trabalho legalmente reconhecido.

Este ano vamos ver nove estrangeiros em campo, divididos entre argentinos, uruguaios, um colombiano e até um naturalizado africano de Togo. Uma Torre de Babel nos gramados que pode levar um pouco mais de curiosidade e entusiasmo às arquibancadas.

De parte da Federação Catarinense de Futebol é que não tem novidade. Nem poderia ser diferente para uma entidade que tem dono há quase um quarto de século. Onde não existe alternância de comando, o terreno é infértil, novas idéias não frutificam. A Federação ainda é dirigida como no século passado, nos tempos das reuniões de José Elias Giuliari no restaurante Lindacap, altos da Felipe. A sugerida profissionalização não passa da porta da rua para dentro da sede levada para o quintal do nosso déspota não esclarecido em Balneário Camboriú.

Exatamente nesse ponto chegamos aos direitos de transmissão, retomados legitimamente pela RBS. As leis de mercado explicam tudo sem necessidade de grandes debates. A fragilidade e falta de preparo da concorrência facilitam o jogo para o grupo gaúcho. O perigo das exclusividades é a transformação dos seus profissionais de jornalistas em agentes de publicidade e propaganda, com o conseqüente e inevitável comprometimento da opinião. Ou alguém vai se atrever a falar mal do produto que está ajudando a divulgar? Que maravilha, hein presidente Delfim?

A história a ser contada nos estádios sofre a natural influência desta composição. A começar pelas vistorias pra inglês ver feitas pela Federação. A imprensa não participa, emudece a partir daí. Depois se queixa da falta de estrutura para o trabalho. Não fossem Bombeiros e a Polícia Militar teríamos – e teremos um e outro - jogos em campinhos de pelada.

Ah, os melhores times, os favoritos. Nesse quesito somos os melhores, praticamente imbatíveis. Duvido que tenha outro campeonato no Brasil com tanto torcedor nas cabines e tantos favoritos em campo. A competição é enxuta, uma virtude, com apenas dez participantes, e no mínimo cinco candidatos sérios ao título, uma originalidade. Avaí, Figueirense, Joinville, Chapecoense e Criciúma, não necessariamente nessa ordem, formam o pelotão de frente. Cinco em dez, cinqüenta por cento, a metade da lista pode levantar a taça, uma proporção foram do comum. Podem procurar na concorrência, não existe, cobrimos qualquer oferta. Garantia da côrte e seus áulicos.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ah, essa mania de fazer fofoca

O governador Luiz Henrique e o vice Leonel Pavan estão de viagem marcada para o exterior. O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Jorginho Melo, louco pelo poder, estranhamente abriu mão de ocupar o cargo na vacância dos dois e cedeu a vez para o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador João Eduardo Souza Varella.

Parece que tudo vai bem no Estado, que nesse momento prescinde da presença do governador e vice. Ambos podem viajar tranqüilos, apesar de o presidente da Assembléia andar muito atarefado ao ponto de recusar a honraria da cadeira governamental. Não há com o que se preocupar, os desastres naturais acontecem para atormentar Rio, São Paulo e nossos vizinhos do Rio Grande do Sul. Nnossos municípios e suas estradas estão em perfeito estado, a Defesa Civíl pode dormir tranqüila, qualquer coisa basta ligar para as assessorias de Luiz Henrique ou do Pavan, que estarão a postos no exterior para o que der e vier.

Pensando bem, é uma boa oportunidade pro pessoal pegar a estrada. A coincidência de o Leonel Pavan estar sendo indiciado por corrupção não altera a ordem dos fatos para o Tribunal de Justiça. Seu desembargador presidente vai tomar conta da casa direitinho e não vai influir sua momentânea presença no cargo do Luiz, em substituição ao Leonel e ao Jorginho. Afinal de contas, amigo é pra essas coisas e ninguém tem nada a ver com isso. Muito menos esses jornalistas políticos intrometidos. Felizmente, conhecendo o seu lugar, resolveram ficar quietinhos e não abriram o bico. Tá na hora mesmo de parar com fofocas e suspeitas infundadas.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Elementar meu caro progamador

Faz tempo passei da idade para ver um filme como Alvin e os Esquilos 2. Nunca suportei a Xuxa, minhas fantasias eram outras, acredito eu mais interessantes e de mais qualidade. Portanto, nem por engano vou entrar em um cinema para ver O Mistério da Feiurinha. Gosto muito de cães, mas não me convidem para ver Sempre ao teu lado. Não acho o Akita um cão interessante, embora bonito e o Richard Gere eu deixo para as moçoilas que adoram galãs de cabelos grisalhos. Que tal aturar o filme propaganda Lula, o Filho do Brasil? Deus me livre. Prefiro chamá-lo de filho...deixa pra lá.

Avatar, uma superprodução de ficção científica, me agrada um pouco, mas não para pagar ingresso e aturar um monte de aborrecentes baulhentos, conversando o tempo inteiro, comendo pipoca e chupando bala. Daqui a pouco este filme aparece na locadora e vejo em casa tranqüilo com as minhas pipoquinhas, bem mais baratas e saudáveis.

Quero assistir o último filme do Almodóvar, Abraços Partidos, com a minha musa Penélope Cruz. De que jeito? Tinha uma só sessão, às 22 horas, em um cinema apenas, e durante três dias na semana. O recém lançado Sherlock Holmes, com o Robert Downey Júnior, estreou no Brasil, menos em Florianópolis.

Enquanto aumento meu mau humor cada vez que consulto a programação cinematográfica perco a esperança de que um dia não seja tratado como imbecil pelos programadores e monopolizadores dos cinemas da cidade. Com o cinema do CIC fechado, a desgraceira é completa.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Futebol e geriatria

Talvez pela diversidade do clima e das belezas naturais da serra e do litoral, o que permite uma vida mais saudável. Com o calor, botamos os velhinhos lá em cima. Subindo a 282 não faltarão ar puro e casas de repouso. No inverno a turma fica aqui em baixo mesmo, ao nível do mar, onde não faz tanto frio assim. Quem sabe pela possibilidade de um final de carreira com aposentadoria bem remunerada, já que o futebol catarinense desfruta de um invejável potencial econômico. Ou talvez pela chance proporcionada por essa vitrine que poderá conduzi-los à seleção brasileira máster.

São algumas das hipóteses que precisamos considerar para tentar entender a contratação de Sávio, 37 anos, pelo Avaí, e de Viola, 41 anos, pelo Brusque. O primeiro já fez parte com Romário do ataque dos sonhos e que virou um pesadelo para os flamenguistas. Sávio não joga futebol há um ano. O segundo está em plena atividade, participando de torneios de showbol, inclusive de um que correu por toda Santa Catarina, arrancando R$ 1 milhão e setecentos do governo do estado. E não reclamem, foi mais baratinho do que a árvore do Cavalazzi.

Façamos justiça. O precursor desta idéia de ajuda aos aposentados foi o presidente da Federação Catarinense, Delfim Peixoto Filho. Todo o dia ele se olha no espelho e, do alto dos seus 24 anos – e ainda fica até 2014 - de sucessivos mandatos, pensa em novas fórmulas que impeçam a renovação da entidade que dirige e do futebol que administra. Não é por nada que a Federação Catarinense é um exemplo de organização e modernidade.

Delfim até anda meio triste, pois acaba de perder um representante da terceira idade na arbitragem, o carioca Wagner Tardelli, que preferiu largar o apito para virar auxiliar de Luxemburgo no Atlético Mineiro. Seu medo agora é que Luiz Orlando de Souza resolva imitar Tardelli e peça aposentadoria. Não me deixem só, anda resmungando pelos cantos do palácio federaciano o irremovível Delfim.

Mas não pensem que Avaí e Brusque estão sozinhos nessa meritória campanha para garantir um reforço no orçamento daqueles que já pararam com a bola. O Santos acaba de contratar Giovanni, 37 anos. Tinha esquecido dele pelo tempo que ficou na Europa e fora dos gramados outro tanto. Pra não perder a forma vai bater uma bolinha no time do Dorival Junior. E parece que a água de coco opera milagres. Edilson que o diga. Aos 39 anos conseguiu uma vaguinha no Bahia, onde vai ganhar por produção. Que maldade com o Edilson.

Pelo exposto, tudo indica que na próxima Assembléia Geral os dirigentes de clubes vão sugerir a Delfim a extinção, pura e simplesmente, das competições das divisões de base. Pra que esse desperdício de gastar dinheiro investindo na garotada?

Antes que me chamem de preconceituoso e o escambau, entendam a ironia. O assunto é sério e vai bem mais longe. Com o Figueirense, por exemplo, que acaba de trazer de fora do estado praticamente um time inteiro de atletas na faixa dos 19/20 anos, quando tem em casa um título da Copa São Paulo de futebol júnior, conquistado na edição passada. Além de ter vencido este ano
todos os campeonatos oficiais envolvendo garotos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Confundindo (de propósito) alhos com bugalhos


Entrei 2010 de mau humor. É muita podridão envolvendo corrupção de políticos e quejandos, trazida ao conhecimento público por algumas operações da Polícia Federal – a mídia tradicional pouco faz -, tais como moeda verde, traquinagens como a nossa (deles) árvore de natal, shows megalômanos, campanhas eleitorais fora de época, por tanto, ilegais, duplicação de estradas que levam décadas, obras superfaturadas, dinheiro público escorrendo pelo ralo, ufa, que lista.

Tudo isso revela a impunidade e o descaso com que somos tratados pelas chamadas autoridades constituídas. Roubar é preciso, prestar contas, jamais, fazer jus ao voto, nem pensar. O povo que se exploda, como pregava aquele personagem da tevê. Nessas horas lembro das ações da FATMA, exemplo anual da instituição que deveria zelar pelo cumprimento de leis de proteção do meio ambiente, junto com outras geringonças existentes no poder público. Até que a turma se esforça, mas...

E o que tem a ver uma coisa com as outras? Tudo, e de um jeito muito emblemático. A FATMA todo o início meio e fim de temporada elabora uma lista com a condição de balneabilidade das praias do litoral catarinense. Entra ano, sai ano, e ficamos sabendo onde podemos tomar banho sem botar o pé na merda, o que está cada vez mais difícil, uma raridade, pode-se dizer.

Então ficamos sabendo que a praia tal está assim, a outra assado, coisa e tal. E nada acontece, ou seja, continua tudo como dantes e o populacho cada vez maia acuado pela poluição e descaso dos manda chuvas de ocasião. Entenderam? Governador, vice, deputados, prefeitos, secretários, vereadores, tudo farinha do mesmo saco furado. A lista da FATMA continua não servindo pra nada.

E tome propaganda enganosa, tome rótulo tipo “Capital do turismo do Mercosul”, maior e melhor destino turístico do sul do país. Pode ser, desde que se chegue por aqui de avião e com reserva em alguns dos guetos ainda existentes, destinados aos privilegiados de plantão, e que só conhecem o bem bom do que sobrou de Florianópolis. Até nosso carnaval já plagiou samba, patifaria e obras inacabadas.

A outra parte, a da falta de luz, água, saneamento básico, estradas entupidas, ocupação desordenada, o vale tudo municipal, isso só nós conhecemos e desfrutamos. E nem vou falar no problema das encostas. Cruz, credo, vão me chamar de pessimista.